segunda-feira, 11 de junho de 2012

Venda de terras na África



Estrangeiros já compraram uma Alemanha na África

Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
 22/09/2011 
Desde 2001, algo próximo a 221 milhões de hectares de terra foram vendidos, cedidos ou arrendados, a maior parte por investidores internacionais, em países em desenvolvimento. A maioria destas transações aconteceu na África. O comércio de terras no continente, nos últimos anos, já dá uma área maior que a da Alemanha. Os motivos do frenesi seriam três, segundo um relatório que está sendo divulgado pela ONG internacional Oxfam: segurança alimentar, biocombustíveis e especulação.
O fenômeno tende a ficar ainda mais forte em um mundo com população crescente e recursos limitados. A expectativa é que a economia global triplique até 2050, exigindo mais dos recursos naturais e da agricultura. A demanda maior por comida, somada às condições adversas provocadas pelas mudanças climáticas, escassez de água e competição com culturas que produzem biocombustíveis, criam um cenário pouco otimista. "É um problema muito novo, e os países não estão se dando conta da sua dimensão", diz Simon Ticehurst, chefe do escritório da Oxfam no Brasil.
"Acredita-se que as respostas virão do mercado e da tecnologia, que podem até ajudar, mas não vão resolver tudo", continua. "Há que se encontrar um equilíbrio entre estas forças e é fundamental que os países criem suas regras."
O relatório da Oxfam cita casos de apropriação de terras em Uganda, no Sudão do Sul, na Indonésia, em Honduras e na Guatemala. A questão fica ainda mais complicada porque, em muitos países, quem vive nas terras não têm título de propriedade. Em Uganda, segundo as pesquisas da Oxfam, mais de 22,5 mil pessoas teriam perdido suas casas e terras para uma empresa britânica de madeira, a New Forests Company, que nega ter expulsado as pessoas.
Segundo o estudo - intitulado "Land and Power" -, os contratos de compra e venda não costumam ser transparentes, o que dificulta a obtenção de dados exatos sobre a movimentação de terras. Informações checadas por várias fontes dão conta de mais de 1.100 negociações de terra (somando cerca de 67 milhões de hectares), nos últimos anos. "As mulheres e as populações mais carentes são muito vulneráveis a este fenômeno", diz Ticehurst. Violações de direitos humanos seriam frequentes. As comunidades locais não estariam sendo consultadas sobre os negócios e nem tratadas de forma justa.
'A lógica da produção de alimentos no mundo tem que mudar', defende Ticehurst. O caminho, acredita, passa pela agricultura familiar, sustentável e agroecológica. 'O modelo atual, baseado em grandes propriedades, monocultivos e uso intensivo de agrotóxicos está quebrado', diz ele."

3 comentários:

  1. em oposição a minha utopia - solidariedade internacional, novas práticas autossustentáveis, resgate de valores positivos tradicionais - a distopia surge nessa matéria. O futuro negro da África, não é o futuro do povo negro; é o futuro ruim para o povo africano: sua terra vendida e mais uma vez o pior acontece.

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  2. Triste fato. Concordo com o Pilar da Ponte do Tédio.

    Estas empresas sempre dão um jeito de entrar nos negócios para vencer. É uma pena que isto é amparado por estes países. A Europa infelizmente, juntamente com os EUA, ainda são as metrópoles e o restante do mundo, suas colonias.

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  3. Esta situação retrata bem o capitalismo mas acredito que sua utopia, Pilar da POnte do Tédio, não seja tão impossível assim. Nenhum milagre vai ocorrer mas mesmo as empresas já consideram o valor social e ambiental como parte de suas estratégias. Além disso o mercado africano aponta para um "descobrimento" de novas tecnologias que poderão ser usadas. O que é preciso é a valorização da identidade, a melhora da qualidade de vida com o progresso para o povo africano. Se ainda há empresas que pensam somente em lucro , há também grupos mais conscientes dos valores sociais e lutam para acabar com toda essa desigualdade e injustiça.

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