O Brasil na África
Paula
Adamo Idoeta BBC Brasil 09/05/2012
Em um artigo da BBC Brasil, a jornalista Paula Adamo Idoeta de
09/05/2012 menciona um estudo feito pela consultoria Ernst
& Young: “ o Brasil está no fim da lista dos 30 maiores investidores da
África, respondendo por apenas 0,6% dos novos projetos de investimentos diretos
estrangeiros (FDI, na sigla em inglês) no continente entre 2003 e 2011. Em
comparação, os EUA abocanharam 12,5% dos novos projetos; a China (Hong Kong
incluída), 3,1%; e a Índia, 5,2%.”
Em
um seminário do BNDES o banco BTG Pactual afirmou a intenção de captar US$ 1 bilhão para
investimentos do setor privado brasileiro na África, em áreas como energia,
infra-estrutura e agricultura, relata O Estado
de S. Paulo. A Eletrobrás também estuda hidrelétricas em Angola e Moçambique, e o
presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pediu mais aportes do G20 (grupo das
maiores economias do mundo) ao Banco Africano de Desenvolvimento.
Para Michael Lalor,
diretor do África Business Center da Ernst & Young: "Foram 33 projetos
de investimento estrangeiro direto do Brasil na África desde 2003 - menos de 1%
do total." E, com o crescimento do mercado consumidor africano,
"surpreende que empresas brasileiras de consumo - serviços financeiros,
varejo, telecomunicações - não estejam mais ativos no continente",
agregou. Para o executivo, há também expectativas de que o Brasil "use seu
expertise em biocombustíveis para investir mais fortemente nisso".
Presença brasileira é mais forte em Angola (foto) e Moçambique
Moçambique abriga empreendimentos da Vale e da Odebrecht,
uma das maiores empregadoras locais; Angola é o maior receptor dos investimentos
brasileiros no continente (R$ 7 bilhões, segundo estimativas de 2011 da
Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola). Empresas como
Petrobras e construtoras como Odebrecht e Andrade Gutierrez têm operações
sólidas ali.
Mas, para a diretora regional
da África da Economist Intelligence Unit, Pratibha Thaker, o Brasil está
seguindo um curso natural. "Não acho que o país tenha desperdiçado
oportunidades. Começou com os países de língua portuguesa e agora está
avançando para outros - por exemplo, a África do Sul, onde mira o varejo e a
agricultura", afirmou à BBC Brasil. "É a primeira vez que o
continente africano está sendo encarado com seriedade pelo mundo (como um pólo
de oportunidades). E o Brasil, ao contrário da China, é bem visto por sua
tendência a empregar mão de obra local, transferir tecnologia."
Ela adverte, porém, que espaços não ocupados por outros países na África
serão tomados por investimentos chineses e indianos.
Avanços e recuos da África
Demanda por infra-estrutura ainda é grande no continente africano
O relatório da Ernst & Young aponta que, entre 2010 e 2011, cresceu
27% o número de projetos financiados por investimento direto estrangeiro na
África. Os principais receptores são África do Sul, Egito, Marrocos, Argélia,
Tunísia, Nigéria e Angola.
Mesmo assim, o continente abocanha apenas 5,5% do total dos
investimentos estrangeiros - algo que, na opinião de Ajen Sita, "não
reflete o potencial econômico da África".
Isso é atribuído à desconfiança de muitos investidores com relação à
instabilidade política, à corrupção e às dificuldades em fazer negócios
atribuídos aos países africanos.
No levantamento feito pela E&Y, empresários sem presença na África vêem
a região como "a menos atrativa para negócios do mundo". No entanto,
diz a consultoria, quem já faz negócios na África tende a melhorar sua
percepção sobre o continente e a considerá-lo quase tão atrativo quanto a Ásia.
Também cresce o volume de negócios entre países africanos, enquanto
velhos desafios permanecem: a infraestrutura continental é deficiente e requer
investimentos de mais de US$ 90 bilhões, apontou Sita.
Outro antigo desafio é a estabilidade continental - um problema antigo
que atualmente se manifesta com os levantes da Primavera Árabe e com golpes de
Estado em países como Mali e Guiné-Bissau.
Em resposta a isso, o relatório da E&Y afirma que, apesar de focos
de conflitos, "a democratização africana é algo real, com os Estados
unipartidários se tornando cada vez mais a exceção, em vez de a regra".